Domingo, recém chegada a boca da
noite, ainda antes das 19 horas, na esquina da Rua 10 com a Praça Cívica, em
Goiânia... Bem perto da Catedral! Um
casal (homem e mulher) aborda a gente querendo R$ 0,50 (cinquenta
centavos).
Claro, eles não querem muito,
precisam de pouco, só alguns centavos, mas nós somos obrigados a ter essas
moedinhas reservas para ir distribuindo pela cidade. É quase necessário um
emprego extra para cumprir com tal obrigação de ser “solidário”. Ninguém pede
comida, ou fala que está com fome, se dispõe a ir até uma lanchonete para
receber algo para comer. Precisam mesmo é das moedas!
Se você não tem? Ou passa longe e
reafirma a invisibilidade social destas pessoas ou é educado em dizer que não
tem. Mas e o resultado? Aí, apontam uma arma (seja faca, facão, peixeira,
revólver, etc.) e levam tudo o que podem e continuam caminhando como quem
recebeu sua parte no imposto.
Exatamente isso que aconteceu
comigo ontem... Enquanto pessoa ligada a movimentos sociais, engajado nas lutas
por “um outro mundo possível” (se é que
ele possa existir), acredito que ambos somos vítimas de uma mazela que acomete
todos.
Enquanto pessoa que estuda as
Políticas Sociais Públicas, acredito que somos vítimas empobrecidas de um
sistema brutal e corrupto. Que são necessárias a criação e formulação de
políticas sociais capazes de compreender esse universo das pessoas que vivem às
margens e incluí-las de forma digna nos “centros”.
Porém, enquanto vítima, eu
desejava e desejo uma ação mais eficaz do aparato legal que deveria estar a meu
serviço para proteger-me de crimes iguais a estes e a outros.
Nesses momentos cadê a polícia?
Ligar para a emergência e informar que você está a duas quadras de uma delegacia, dizer o
ocorrido e que está vendo os ladrões caminharem na sua frente com seus
pertences é o mesmo que nada.
Recebemos uma resposta sim do
190: “Estou indo agora”. Entretanto, esse agora é muito relativo para cada
pessoa, para cada instituição! E geralmente, as pessoas de bem sofrem com essa
discrepância de demora no entendimento do termo...15 minutos, 30 minutos e, uma
delegacia a menos de 5 minutos do ocorrido, não pode dar efeito socorrido.
Triste ainda, é ver que cada dia mais em Goiânia, assim como em
outras cidades, todos nós estamos nos tornando reféns dos tais “guardadores” de
carros. Já não há mais lugar público para estacionar. Ou você paga para poder
pagar em um shopping ou numa loja, ou então você pode deixar na rua (aonde é
permitido estacionar).
Lógico, tem o bom serviço
daqueles que vão vigiar seu carro por "algumas moedas". Serviço obrigatório! Eles
(os guardadores/vigias de carros) estão
em toda parte e a gente se sente coagido a ter que pagar para colocar o veículo
num local que era, por natureza, público.
Mas existe a opção de não dar
moedas. Sim. Só que aí, corre-se o risco de ter vários riscos em seu veículo,
ser “carimbado”, porque muitas vezes os mesmos que estão dispostos a “vigiar”
são os mesmos a causar algum mal a você...
Precisamos de ações enérgicas
tanto em termos de políticas sociais, quanto de políticas de segurança para que
não estejam no meio de uns, os outros que vão apontar uma arma pra gente e levar
o fruto de nosso trabalho diário.
É preciso ação conjunta para
desarticular esses locais e desarticular essa prática. O que antes custava só
qualquer tanto de moeda, hoje tem um valor estipulado, sem a opção de aceitar
ou não, pois não se trata de uma negociação, de uma doação...E aqui gostaria
ainda de citar a Catedral Metropolitana, que fecha os olhos para essa prática e abriga usuários de droga “vendendo”
o serviço de proteção aos veículos dos fieis em suas sagradas escadarias.
Por último, no turbilhão de
indignação, pergunto-me: Cadê o papel social da Igreja para que o Reino
prometido comece aqui e não após sermos vítimas da violência sob seu teto? Sua
interferência no Estado deveria perpassar por essas questões também!