quarta-feira, 23 de junho de 2010

Desventura

Amanhã à noite eu sonhei
Sonhava que iria correr pelos dias desencantados daquilo que num tempo procurei.
E quando eu estava cansado no outro dia eu já estava dormindo, assim como fez Deus:
Dormiu para esquecer os detalhes indetalhados!
Por um momento voltei lá no início. Só que aquele início eu via um menino sentado
Em uma cadeira, olhando pro céu sem estrelas, sem lua, sem nuvens e pensava:
Quero ir para o meio!
Qual meio? Meio de quê?
E era o meio do sonho. Não! Era o fim do sonho aquele início reiniciado.
Amanhã eu sonhei que ontem era melhor e que pela manhã já seria amanhã.
Só que de sonho em sonho foi tecendo uma poeira que subia dos pés ao coração
Tornava-se numa pequenice toda aquela meninice. Sonhar era tolice!


No dia de ontem à noite sonharei
Sonharei com o ontem que correrei pelos dias desiludidos daquilo que num tempo serei.
E quando eu tiver fôlego novamente, darei o livre arbítrio, assim como fez Deus:
Para pecar, tentar, arriscar e decidir o fim que não conseguiu impor!
E o menino na cadeira? Não é Deus, nem o céu sem estrela, sem nuvens e nem pensa mais...
E o meio? Já não é mais. O sonho é o início
O meio também é o início, mas aquele início com certeza é o final.
E finais são sempre tristes, por isso a meninice
Porque amanhã e ontem é hoje e depois a poeira desce, some com a água.
Tolice é não sonhar e dormir pra esquecer detalhes.
Bom mesmo é não dormir é esquecer detalhes
Desventurar de sonhos, despir-se à noite
Desnudar-se amanhã e hoje... Ah, hoje levantar da cadeira

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Menininha

Corre, corre garotinha
Viva, viva menininha


Brincando de ser pequena, na meninice
Estrelando as flores do campo
Despetalando as pétalas da alegria


Joga, joga a bolinha
Pega, pega a bonequinha


Com seu sorriso de criança
Na astúcia da inocência
Beijando a mãe na varanda


Busca, busca menininha
O encanto para encantar
O olhar para santificar


Menininha, menininha
Quanto bem
Queremos bem
Seremos bem


Devolva, devolve
Sonha, sonhos
Agora somos
Pra menininha
Sonhar

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Minha amiga...

Em tempos de paz passamos as aventuras de ser alegres
Em tempos de escuridão passamos as desventuras


Na vida...em tempos


Somos feitos de tempos em tempos
Somos compostos por múltiplos ritos


São ritos que nos passam quando não
São ritos que passamos quando sim queremos
Ritos, passagem, passagem dos ritos

Às margens, aos rituais
Às espirituais e as carnais

As alegrias, as desavenças
As esperanças...Ritos

A fila da faculdade... a irmandade
E o caminho à eternidade.


Ritos de passagem...de vida... de pós-vida


Viva os ritos...mesmo que com gritos
Grite e ritue-se!

Vultos do Cerrado

Ah, aquele frio que embrenhava pelas entranhas
Naquela poeira que impregnava a alma nas estradas...
Novas entradas
Plantas achadas...

Caminho de lobeiras e de lobo
De terra seca e de língua de fogo
Êta! Que povo bobo...
Fogo acaba com gente!

Panela de barro
Barro da panela
Estórias na aquarela bem quente...
No calor do fogão, no tacho

Ah, seu moço
Estrada do jatobá,
Das cantigas do cacuriá
Lugares de Cora...

Bicas de Seu Simino
Flores de dona Cida
Êta gente besta, essa que não conhece
A vida
A prosa
A viola invisível dos pés

O bailado do tucano,
O gingado do vento
No relento do rio...
O meio-dia na gameleira


E a moçada festeira?
Fazendo algazarra pelas pedreiras
Rezando na igreja de São Bento
Acalmando o mau-tempo...


E o seu Antônio?
Das histórias, da Estação 36
Das emas e do patrimônio...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

Na andança...

Bora cordá seu povu!
Óia a cobra que se arrastou
Êta, a dona moça matou...

Eu vi! Você viu?
O vaga-lume que não vagava
O lobo que já era guará
O rio que gritava
O povo que contava, cantava...

Flor de poeira
Poeira da flor
Ramos cegos, cegos enganos
Pássaros ciganos
Quantos panos sem planos
Quantos vôos...
Tanto amor

E pouco cerrado
Muito gado
E muita planta pequena
E cadê a siriema?
Ali ó, ali!

Bem onde moram as duas mãos
Uma no presente e a outra... também
Ali, bem além...
Onde a vida é mais que um vintém!