segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Madrugada

Parece não ter fim, é uma imensidão aqui dentro de mim...
Tudo que vejo é pouco. Tudo que sinto é menos. 
Os olhares são para os vestígios;
Os dedos caminham ao encontro dessa textura cor de noite;
A respiração escapa numa vertigem ao encontro do aroma distante;
Minha memória se confunde ao sono ausente;
As lembranças te acolhem nos braços com um olhar sereno;
A cabeça gira. Gira e gira, pergunta: por que? Como? Quando?
E as respostas acompanham a fumaça...somem
Ficam dançando um balé estranho em mim...
Fico perdido, sem saber acompanhar, sem dançar, nem cantar...
Só faço olhar, porque é o que tenho;
Ao menos contemplar enquanto o dia não se veste de sol 
e eu esqueça o que é amar!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Meu bem


Hoje acordei cedo, até mais do que de costume, meu bem!
Pense bem...
Não há nada mais além
De você que vem,
Meu bem.
Vamos partir de trem,
Seguir em frente
Pensar na gente...
Vamos mudar o caminho,
Nos queremos com carinho.
Então vem, meu bem.
Sempre chove quando você vem!
Que teu coração se molhe!
Que penses só em mim
E para traz não olhe.
Meu bem,
Peço-te, confie!
Nos esconderemos no meio da multidão.
Seremos nós, de alma e coração!
Até que chova novamente...
E você, um novo amor, invente. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Saudade da carriola


Acordávamos cedinho, na boca da manhã, com o despertar dos dois galos de plumagem avermelhada. Ela, robusta, encorajada por uma vida de labuta de “sol-a-sol”, prepara no grande coador de pano costurado em uma máquina de pedal, o café. Fritava bolinhos de trigo. Bolinhos salgados e doces, pois ele, com formas amenas, olhar azul celeste, cabelos alvos, não gostava ou não podia o açucarado.

Pequenino, com meus seis anos mal vividos, franzinos, de pouca carne e de muitas moléstias, eu acorda aos poucos com o toque suave nos peitos e uma frase de efeito: “Meu filho, acorda!”. Preparava-me para sentar à mesa, comer os bolinhos e tomar o café tão delicioso. O sono, às vezes, com sua mão grande, empurrava minha cabeça para baixo e eu sem ter muitas forças no corpo de menino desnutrido, acabava deixando-a cair por completo. Terminava. Trocava a roupa, colocava o chinelo cor de poeira das estradas do interior: interior da gente!

Ele armava o equipamento, atava ao cinto uma enorme bainha, com um facão. Eu desconhecia o significado, até o dia em que levei uma bainhada como corretivo... Saímos de casa ainda com os últimos versos dos galos. Sua preferência era pelas primeiras horas do dia, assim como uma vida toda de trabalho roceiro.

Saímos pela porteira, acompanhados pelos causos de assombração. Todos os fios de cabelo em mim estremeciam. Era pavorosamente boa a sensação de ter medo e estar protegido. Mas o melhor momento se dava quanto eu ouvia: “quer carona?” – Ah, uma carona naquele momento podia ser a coisa mais valiosa. Igual a todo menino, eu tinha preguiça de caminhar pelo chão encardido, desmotivava-me amolecer a poeira que dormia tranquila durante toda a noite.

Rapidamente, subia no objeto, que estava forrado por um saco de pano, apoiava os pés pequenos perto da roda e iniciávamos a viagem descida abaixo. Minutos de extrema contemplação para as pastagens com o gado curioso, o cheiro do orvalho, o sol que começa a esticar os braços por cima das matas. Mas isso era só na descida, porque na subida, ficava pesado e eu deveria novamente caminhar.

Ah, vô! Como você conduzia com tanta leveza? Impressionava-me a delicadeza de me carregar. Era um heroi para mim, pois continuava com as histórias, rindo ou assoviando. E eu, na minha inocência, achava que não pesava! Engano meu!

Saudades daquele tempo que andávamos por horas a fio em busca dos mantimentos necessários. E na volta da cidade, a carriola carregada por fardos... esses são os fardos que me ensinaste a carregar na vida, sorrindo, contando causos e assobiando, mas assoviar eu não sei. Fica então a sua memória em mim, meu avô/pai querido.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sou insano


Poesia? Poema? Romântico?
Nada disso! Não gastarei palavras pra falar em amor.
Não usarei frases perfeitas para dizer “amo-te”!
Cuspirei uns versos sem nexos para que entendas meu desamor.
Farei meu peito esquecer que existem motivos para sorrir,
Fecharei meus olhos para não verem-te ao entardecer.
E quando a chuva iniciar? Estarei longe da poesia.
Não quero escrever seu rosto nas gotas da goteira.
Não vou desenhar seu nome com a lapiseira...
Recuso-me a apagar-te com a borracha... só por hoje!
Se eu morrer...
Há de ser...
Quero me esvair na poeira.
De longe, um cântico quase romântico cantar
 Pra você adormecer pensando, lembrando
Que um dia te desenhei
E amei.

O tempo de um sonhador



Pequenas coisas, alguns objetos.
Nada de lembranças. Muitas memórias!
Um pouco de alegria.
Uma receita de bolo como marca páginas.
E “as horas nuas”, pra brindar com Rosa Ambrósio.
Não esqueço-me de Raul, esse eterno sonhador.
Algumas cores... para eu colorir aos poucos:
um dia após o outro de primavera,
com cara de inverno e gosto de outono.
um amor encantado, encontrado em lugar qualquer
até em um banco de cimento quebrado.
Rosas vermelhas embrulhadas para mim.
Muitas orquídeas e muitos fatos banais, bacanais, legais.
E um coração bordô, preenchido com esse sentimento, arrematado
com tricô e fuxico de seda para eu te dar.