sexta-feira, 22 de abril de 2011

Santa

Sempre dias são dias.
Hoje é sexta
Hoje é santa
Santa porque alguém se entrega
Estou entregue
Assim será para que o sacrifício
Não vire pó
O amor não fique só
Hoje é sexta Santa
Santos os dias
de tristezas, lutos e alegrias.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Comida de latão

Comida. Comida...comidão!
É bem alí, sentado no chão
Vendo os panelão
Passando a mão no barrigão
Comida não é pão
Comida é comida.
Comida é gente unida
Comida. Comida...comidão!
Debaixo da lona preta
Fartura do povão
Bem alí, na mobilização
Comida não é gente.
Comida é comida.
Comida é arroz com feijão.
Comida. Comida...comidão!
Também tô com fome
Dessa comida do latão
Carne com arroz, misturadas com feijão.
E um picadinho de coração.
Comida. Comida...comidão!

Páginas de diário



         É tão óbvio sentir-se só. Ainda mais natural é inventar-se escritor para tentar domar os medos, escrever verdades inventadas, sentir paixões iludidas e viver amores descabidos.
A verdade é que gostaria de ser um escritor, de escrever ao menos uma paixão descabida, não! Uma paixão com ternura. E ao contrário do que desejam, um amor ardente, fulgaz, com adjetivos que poderiam ser somente revelados em páginas com orelhas e encardidas daquele diário que guardamos na gaveta mais secreta ou então embaixo do colchão.
O que queremos é sempre dizer algo para alguém. Doce ilusão que criamos ao contar a ele o que sentimos, como estamos no início ou no fim do dia. O desejo profundo mesmo é que o ranger da porta que se abre, desnude nossos dias para o mundo, com a facilidade de um uivo e misterioso como a magia antiga dos feiticeiros.
Então, escrever sobre bobeiras diárias, sobre coisas banais, sem ter mais um repertório adequado de palavras, já é o bastante para quem não tem um diário, nem ao menos nasceu escritor... e mais uma vez arriscamos:
- Querido Diário, nesse momento, eu queria que não só você soubesse disso, mas todo o mundo, em diversos lugares, em diversas línguas. Depois de um final de semana de pequena leitura, vendo seriados iniciar e acabarem e alguns filmes, deu vontade de ser poeta. Mas não sei ser poeta! Você sabe como se faz? Uns dizem que as pessoas nascem assim, outras dizem que há técnica e um tal estilo. Outros afirmam que ser poeta é escrever o que sente. Estranho, porque não sei o que sinto. Nem sei se sinto ou senti.
- Mas voltando ao meu dia, Querido Diário, digo-te que tenho buscado grandes respostas para pequenas perguntas. Tenho tentado me encontrar em alguns lugares aqui em casa. Até agora as tentativas foram em vão, sabe por que? Não sei em que canto enfiei minha casa.
- Nessa jornada por mim mesmo, estive em um casebre de madeira, com paredes pintadas em verde e detalhes das janelas em amarelo, em que adentrei em um quarto pequeno com uma cama pequena e fina, um armário com um espelho na porta e uma mesa de madeira nobre, forjada com as mãos e o formão pelo bisa. Uma gaveta central com uma pedra de ametista, molho de chaves sem utilidades e um caderno de histórias e fantasias de um menino.
- Tremenda confusão, pois poderia passar a vida fugindo e fingindo de estar buscando. Tentando encontrar o quê? Já encontrou! Mas alguns sentimentos são medrosos, são envergonhados, vergonhosos, são frágeis. Ah, Querido Diário, precisamos de doses do desconhecido para conhecer o que vivemos. Precisamos viajar para ter a saudade, provar a nós mesmos que somos menores que a coragem, do tamanho do medo e por fim... a vontade de ser um poeta fingidor, um escritor dissimulado, um amante impecável e um devoto da felicidade. Por hoje é só e não conte a ninguém!


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Desejos noturnos


Ao anoitecer encostei meus olhos para o noticiário
Algo de diferente era anunciado.
Talvez nem tão diferente para quem via a alegria de segunda à quinta.
Mesmo assim não deixava de ser trágico.
Algo na órbita diminuía a capacidade de amar.

Ao anoitecer encostei meus braços ao peito.
Tive medo do noticiário.
Quis proteger um pouco mais o que sentia.

Foram noites de desejos que ela não morresse,
Que ela não se esvaísse
Que não fosse verdade o fato
E que de fato, fosse eterno o que sentíamos.

Em sonhos, só um sonha.
Em sonhos, só um chora.
Só um corre e não sai do lugar.
Desejos noturnos de percorrer as crinas
Azuladas de tão negras e lisas.
Noturnos desejos de continuar acalentando esse vulto...
Que não foi noticiado pela clandestinidade.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Voz de poeta



Poeta deveria ser feliz.
A poesia deveria nascer como verniz.
O peito do poeta deveria ser eterno aprendiz.

Poeta era pra ser colorido.
O poema era pra ser em tudo desmedido.
As rimas eram pra ser somente ao ouvido.

Mas há um momento que se cala.
Há um tempo de perda,
Há um tempo de luta,
Há um tempo de morte
Na voz do poeta.

Há sempre uma poesia mais poema.
Há sempre uma poesia que é silêncio.
Porque poeta também tem voz.

Poeta deveria ser tristonho
Porque a voz do poeta conduz a palavra.
Porque o poeta é só um sonho.

Voz de poeta é rude, é nude, é escassa.
Perpassa alma por ser voraz.
Voz de poeta...desejo de profeta.
Voz que grita silenciosamente o mundo.