Quando eu era pequeno, de todos os medos que eu tinha (e eram muitos, muitos mesmo!), alimentados pela avó Amélia e o avô Dastro, um era certeza: - Meu filho, gato preto é coisa do Diabo!
E lá, no interior,
bem no meio das roças e roçados, aonde o único programa que havia era nas
noites de lua clara, andar por 1 ou até 2 km e visitar um vizinho, havia muitos
gatos. Gatos de todos os jeitos, tamanhos e cores. Menos preta. Acho que havia
uma seleção natural que o povo praticava quando nascia um bichano de cor
azeviche.
No quintal de meus avós mesmo, havia muitos deles para a
alegria e a raiva. Explico: o objetivo central era espantar os ratos que
inundavam os paióis de milho, arroz e feijão, mas como em toda família, há
sempre aquele rebelde. E tinha uns que, segundo minha avó eram “endemoniados”,
pois faziam questão de comer os pintinhos, os pássaros...menos os ratos.
Eu, sempre gostei dos gatos. Tenho meus motivos e eles os
deles: éramos sorrateiros, tinhosos, orgulhosos e independentes... um tanto
convenientes, confesso. Mas apreço mesmo eu tinha pelos tais “coisa do Diabo”.
Fui crescendo e continuava não entendendo o por que deles –
os gatos pretos – serem tão temidos. Em noite de sexta-feira treze, eram mais
temidos que os lobisomens das luas-cheias, que meu avô encontrara na juventude
embaixo das mangueiras, ou até mesmo dos fantasmas que ficavam esperando no
escuro da gameleira, minha avó e a moçada que vinham, lá por volta de meia
noite, dos bailes.
O povo mais velho, dizia para mim que não era medo. “Tenho é
receio de encontrar esse bicho, ainda mais na noite de sexta feira. O Diabo tá
é solto”. E eu ia criando mais gosto pela combinação tão temida. Gostava da
pelagem que brilha ao sol, dos olhos que faíscam à noite e dos ímpares.
Perdi o medo de ambos, porque de todos os ímpares, sempre me
chamou a atenção o 13. E aí fui
percebendo a combinação dos ímpares: 13 soma-se ao gato preto, na sexta feira –
o quinto (dia impar) útil da semana.
Ah, meus gatos? São sempre, em sua maioria, pretos... E
assim como meu medo foi deixando as histórias, os mais velhos foram ficando
mais novos e aos poucos até as noites de lua cheia e a sombra das gameleiras se
perderam.
Já não se houve os causos que aconteceram nas noites de
sexta feira treze. Nem minha avó se lembra das cavalgadas pela noite em que a
lua alumiava os sonhos e os medos. Todos, na mesma proporção.
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