quarta-feira, 15 de maio de 2013

(Descon)Trair


Conjugo esse verbo em primeira pessoa.
Não que isso de forma vã soa,
mas que ao ânimo me povoa.

Tudo que era criança inventiva,
tornei-me pessoa adulta descrente
ao ponto de ter uma índole descente.

Contudo e todavia,
inventei minha própria
via.
Porque eu nunca gostei do que via.

Portanto e entretanto,
contraio a língua semi-nua
e atravesso a carne crua,
espelho da própria sorte,

a morte.

Flexiono de cabo a rabo,
o presente e o passado,
só pra deixar o ex-amor
calado.

com cara de retardado.

Compro minhas próprias sentenças
invento tantas lembranças
e me traio,

com palavras e ações,
mais um mar de intenções.
 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Descobrimento dos Trinta


Descobrir-se aos trinta é quase uma sensação de estar no meio de uma encruzilhada. Nem andou muito, nem andou pouco. Não é jovem, mas também não é velho. Não pode avançar os semáforos, muito menos recuar.

É uma sensação, aos trinta anos, de estar no meio vindo de algum lugar indo para não sei onde. Não que qualquer caminho valha à pena, mas que ainda há as incertezas e os medos da velha infância. Não se pode esticar demais porque o cobertor ainda é aquele usado no final da adolescência, no entanto, uma posição fetal já não condiz com o que quer que você queira e queiram de você.

As estranhezas de se fazer trinta aumentam, quando pensa que nasceu no mês cinco, nem no um, nem no doze e muito menos no seis. Tinha que ser no mês cinco, um quase meio, nem pra frente, nem para trás. Também é questionável, quando se nasce no dia dezoito, pouco depois do meio, mas não muito adiante. E quando você faz as contas e descobre que nasceu às 12h20 em plena quarta-feira?!

Isso lá são horas de nascer? Talvez, seja por isso que meu dia só começa após o meio-dia. Antes disso, não estou nascido para nada, nem para tomar café!

Quarta-feira, sempre foi meu dia preferido já não é mais o início da semana, mas também não é o fim. E nesse meio, há sempre a ilusão de conseguir concluir tudo o que se iniciou após o meio-dia.

Sempre achei que aos trinta eu deveria ter concluído tudo o que queria, porque acabaria alí. Não sei, pode ser que até termine, mas como nasci de meio-dia para tarde, também posso pensar em fazer outras coisas após as 12h20. Particularmente, acho números bonitos.

Enquanto a maioria nascia de madrugada, na madrugada eu já estava pronto para curtir a noite e já tinha visto o primeiro pôr-do-sol. Talvez, seja também por isso que minha cabeça chegou lá, depois do meio, antes do meu corpo. E que seja assim...porque taurino gosta do descompasso, do faz-de-conta: quando pensam que está furioso, não está; quando acham que está manso, abaixa a cabeça, joga vento pelas ventas e parte pra cima.

Coincidetemente, aprendi bem antes dos trinta a observar o comportamento dos touros e sempre achei calmos demais, mas que não apareça murundu no meio do caminho...é cabeçada pra todo lado.

Aos trinta, a gente começa a aprender a ser intolerante com a intolerância. A engolir menos seco e a acordar mais cedo [eu, continuo acordando tarde]. Descobrir-se com trinta é como acordar ao meio-dia: descansou mais pela manhã e tem energia a mais pela tarde.

E assim vem os trinta, nem no início, nem no fim. No meio.

sábado, 4 de maio de 2013

Nos tempos do igual...


É fato que vivemos nos tempos do igual, porém isso está longe de ser [ainda] tempos de igualdade.

Os humanos caminham, no seu processo (des)evolutivo como se estivem adentrando numa grande massa e no fim se tornar um único exemplar.

Você sai de casa e está tudo padronizado. Todas as pessoas têm o mesmo corte de cabelo, a mesma cor, as roupas são as mesmas, a altura é igual...até o comportamento é o mesmo: a predileção pela violência.

E agora, quando a fantasia tomou conta da realidade, temos câmeras espalhadas por todos os cantos, monitorando nossos passos. No entanto, parece que se torna um novo fetiche para o crime. O desejo de exposição está além dos artistas que vemos na TV, nos palcos, nos shows. Agora, todos nós podemos ser artistas...

Comete-se assalto e é filmado. Agride-se a esposa, a namorada, a criança, o cachorro e lá está a película. Atira-se à queima-roupa no outro por sete reais, um celular, poe fogo em outra pessoa por ter trinta reais. Definitivamente não há predador mais cruel que o humano.

Aliás, espero que a etimologia de humano, da forma que conhecemos hoje, seja daqui um tempo estudada na história da língua, porque seu significado já é obsoleto frente à tanta crueldade.

Talvez, seja essa necessidade de estar igual que desencadeia o desejo de ser diferente e culmina na rebeldia desprovida de "humanidade".

É nesse tempo de iguais, tudo está [quase] comum demais!