Beijei, ontem, um moço ao descer
as escadas do restaurante. Beijei! Não que eu quisesse ou tivesse feito isso
antes. Nem que eu seja um cara que se relaciona com outro. Nada disso! Só foi
um beijo.
Confesso que não tive tempo para
associar as ideias ao fato. Foi de relâmpago, de relance. Mas dura uma
eternidade em mim aquele beijo. E o olhar? Uns olhos escuros de desejo, tão
trêmulos quanto as minhas mãos - as únicas
a não saber o que fazer, porque todo o meu corpo queria aquele banquete
estranho.
Foi simples, lógico! Só um beijo,
não é verdade?! Interminável e quente. Sensação estranha de um levemente
salgado cuja incompreensão era trazida pela textura que imitava os degraus da
escada.
Ele? Ah, não tivemos muito tempo
para saber nomes, anotar telefones...Era uma eternidade rápida demais e não
cabia nada além de outras informações que o corpo dele – voraz e trêmulo –
trazia. Bastaram somente aquelas sensações que pareciam vomitar o meu eu para
fora e gritar: Chega. Não gosto de beijar outro homem!
E enquanto sua língua procurava a
minha para enroscar-se escorregadia entre as salivas que tornavam-se uma, eu
queria saber dele o por quê da escolha, por que eu, por que ele e qual a
justificativa daquele lugar? Não. Nenhuma resposta gritada. Mas... Ah, meus
olhos atentos e aquelas mãos rústicas me segurando forte, silenciosamente,
desenhavam cada uma das respostas que eu nem precisava.
Agora, estou aqui, completamente
transbordando esse beijo de ontem. Faminto por corroer cada degrau daquela
escada que alimentou minha saliva.
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