quarta-feira, 11 de julho de 2012

Escadarias do corpo



Beijei, ontem, um moço ao descer as escadas do restaurante. Beijei! Não que eu quisesse ou tivesse feito isso antes. Nem que eu seja um cara que se relaciona com outro. Nada disso! Só foi um beijo.

Confesso que não tive tempo para associar as ideias ao fato. Foi de relâmpago, de relance. Mas dura uma eternidade em mim aquele beijo. E o olhar? Uns olhos escuros de desejo, tão trêmulos quanto as minhas mãos  - as únicas a não saber o que fazer, porque todo o meu corpo queria aquele banquete estranho.

Foi simples, lógico! Só um beijo, não é verdade?! Interminável e quente. Sensação estranha de um levemente salgado cuja incompreensão era trazida pela textura que imitava os degraus da escada.

Ele? Ah, não tivemos muito tempo para saber nomes, anotar telefones...Era uma eternidade rápida demais e não cabia nada além de outras informações que o corpo dele – voraz e trêmulo – trazia. Bastaram somente aquelas sensações que pareciam vomitar o meu eu para fora e gritar: Chega. Não gosto de beijar outro homem!

E enquanto sua língua procurava a minha para enroscar-se escorregadia entre as salivas que tornavam-se uma, eu queria saber dele o por quê da escolha, por que eu, por que ele e qual a justificativa daquele lugar? Não. Nenhuma resposta gritada. Mas... Ah, meus olhos atentos e aquelas mãos rústicas me segurando forte, silenciosamente, desenhavam cada uma das respostas que eu nem precisava.

Agora, estou aqui, completamente transbordando esse beijo de ontem. Faminto por corroer cada degrau daquela escada que alimentou minha saliva. 

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