domingo, 19 de janeiro de 2014

Alumeia o beco

Ô meu santo, que gira com os pés no chão batido
de tantos tambores
e outros tantos amores,
as mocinhas de coração
sofrido
e as mães de leite
derrabado

Ô meu vaga-lume seresteiro
que vagueia nos
terreiros
anuncia a lua cheia

Um benzimento
contra quebranto
e uns ramos de arruda
porque nessa vida sofrida
toda santa é a ajuda

Ô meu lampião
guia eu e meus santos
e se cansar
que haja muito barranco
porque nem todo santo
é branco
e ainda bem
senão
eu não via o que é bom

Ô dona dos becos
não deixe
que meus lábios
fiquem secos
se não tiver água
que seja ao menos um peixe
num cardume
de beijos.

Foto: Jossier Boleão

sábado, 18 de janeiro de 2014

Ao céu

Nesse céu, há terra e há folhas secas que caem
Mas também há flores que se camuflam nas cores
Dores sim, amores também
e uma certeza de
futuros que virão
feito os filhos,
o sol e seu clarão.

Na foto: Acauã, Tiê e Iara


A pimentada


Em certas manhãs, desenvolvemos as tarefas oculares necessárias:
- Olhar, olhando, olhado [bem ou mau]!

São tonalidades semi-separadas que vão entrelaçando
tramas,
gastando dramas,
falando das damas.

Em certas manhãs, não queremos nada a não ser:
- Manhar, manha, manhado [de ressaca ou de amor]!

São teias bordadas na ardura
da teoria empreitada,
cavada,
ardida feito
a paixão não-passada!

Foto: Jossier Boleão