sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Ficção não é mais a mesma



Você já parou para se perguntar por que as novelas não dão tanta audiência como antes? Ou por que os autores deste gênero são bombardeados instantaneamente por críticas do telespectador? Que há uma dezena de reality show espalhada por todos os canais [abertos e pagos]?

Se Guy Debord escreveu sobre "A sociedade do Espetáculo", atualmente, vivemos a sociedade é um espetáculo. Por isso, tudo se torna enfadonho nas telas do cinema ou da TV. As novelas não enchem os olhos com as fórmulas de antes, os autores fazem peripécias para chamar os números do IBOPE para suas criações, porém nada disso resolve muito. Por que?

Porque se antes a ficção se nutria da realidade para criar, agora o que acontece é o contrário. Não somos mais experiências de criadores da verossimilhança e sim nos tornamos os verdadeiros protagonistas de nossa própria realidade encenada.

Os exemplos extrapolam o que eu poderia dizer aqui. É um jovem que diz fazer uma sacanagem com a namorada e gravar a intimidade dos dois, no entanto a "vítima" curiosamente descobre e há toda uma encenação, sendo o resultado centenas de visualizações, comentários, compartilhamentos e assunto em rodas de conversas entre as pessoas; um jovem que filma o outro encenando sobre uma traição e quebrando o telefone do namorado que traiu; mulheres que "organizam" a briga de outras para ficar melhor na filmagem do celular e outra pessoa que fica filmando a briga se estender às "organizadoras"...

É o corpo político do país oferecendo espetáculos para a sociedade, com arranjos políticos que já não se definem mais por "direita-direita", "esquerda-esquerda", mas de meio direita que apoia esquerda e de esquerda que é mais direita. Representantes que não representam os interesses dos empobrecidos, marginalizados, vitimizados e violentados... Chegou-se ao ponto de ser tão real essa ficção que as manifestações dos artistas entram no julgamento de quem deveria representar a voz do povo e afirmar "Quem são os artistas?".

De fato, quem são os artistas? Mas artista nessa concepção ganha um novo status etimológico que conhecemos. Pois, de fato a "evolução" da espécie humana caminha para o declínio. Ao mesmo tempo que há o declínio dos valores, há também da vida. 

Como podemos explicar o atual status de "civilizados" se matamos uma pessoa por um celular? Atiramos em outra por sete reais? Espancamos outra porque é diferente ou enforcamos e executamos pelo fato de ser um morador que perambula pelas ruas das cidades por questões sociais e econômicas?

Selvageria? Talvez. Porém, o que sabemos de selvagem é muito mais civilizado do que nossa sociedade espetacular. O fato é que trouxemos a ficção para a realidade e agora definhamos em todos os aspectos, em frente aos holofotes...tantos holofotes quantos espetáculos possíveis.

A realidade já não é a mesma. Nem a ficção consegue mais ser interessante diante da realidade que assistimos diariamente em todos os canais: quartos, cozinhas, salas, banheiros, ruas, praças, igrejas, parlamentos... 

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