quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Velha

Sou uma velha.
Não temo, 
nem tenho.
A vergonha de dizer 
Nasci primeiro que você.
Sou uma velha.
Não corro,
nem morro,
também não posso.
A tolerância que não tens.
Durmo cedo,
Acordo cedo,
Tenho dores e sou uma velha
Nasci antes do sol
Criei o gosto e pari o desgosto
Por isso, vejo-me no direito
de cuidar dos ratos de esgoto.
Você, mocinho
Você, mocinha!
Não tenho vergonha
de abanar a anágua
de dizer que meu penico deságua.
Não tenho história,
tenho trajetória
Nada de glória,
nem de muito homem
Só no nome: Mara da Glória Osória.
Sou uma velha, dessas boas
e mesquinhas.
Odeio fazer rosquinhas
e jogo veneno para as rolinhas.
Sou uma velha de estrada
de vida cansada
de aparência usada.
Sou uma velha.
Velha sou,
que o tempo mesquinhou.
Sou uma velha de risada farta,
de mão pesada a tecer com a parca.
Risquei a pedra,
com enferrujada faca.
Voei, antes da era, numa vaca.
Não lhe devo satisfação,
Muito menos gosto de oração.
Há muito já morreu o velho coração
Engolido de um só vez
por um falcão.
Por isso minha rudez,
e minha pele no escuro
flácida de nudez.
Talvez para todo o sempre
ou uma única vez.     

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