quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Desaguando


Ouço atentamente cada palavra que sussurra em meu estômago. Sim, elas não estão em meus ouvidos (também), estão é no estômago, bem naquele lugar que a gente sente aquele friozinho, aquele vazio, aquela alegria, aquela algazarra desvairada de estar ansioso, contente, amante.

E vejo. Vejo poesias rindo da minha cara e até debochando porque eu tento pegá-las no brincar de pique-pega, mas são danadas! Correm igual meus sorrisos.

Sinto, silenciosamente, umas outras sensações novas que não consigo entender o nome delas, porque falam tão baixinho e ficam espremidinhas num canto, como quem está com muito frio, segurando com as pequeninas mãos, os joelhos e falando em voz tênue as suas vontades.

Calo e deixo todas à vontade para brincar pelo quintal e observo atento o quanto de vida há aqui dentro. É como se acontecesse uma procissão, em que os adultos vão rezando e segurando as velas, juntamente com seus terços encardidos de tanto passar pelos dedos e a molecada fazendo a festa, nas noites enluaradas.

Há momentos que me canso de ver tanto movimento. Mas é bom! Assim os dias em mim passam mais rápidos e me aproximo mais de encontrar. Encontrar o quê? Quem? Onde? Não sei. Mas vejo essa multidão de pequeninos e pequeninas que estão me atiçando e me impulsionando para frente.

Lentamente. Vagarosamente. Deixo anoitecer para cobiçar as estrelas e perceber a coreografia dos vaga-lumes que desaguam o mundo na noite em pequenos pontos de luz. Seria até poesia, se não fosse verdade essa emancipação da teimosia que se reparte e partilham entre si e comigo as sutilezas mais nobres.

E aí penso: ainda viro vaga-lume e vou desaguando a eternidade nesses lugares escuros.

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