terça-feira, 24 de abril de 2012

Trapaças da memória III – A pequenice




Igual ao chapéu que traja um velho forasteiro e sujo, pela poeira da estranha estrada, levava em sua trouxa um punhado de sonhos. Não que eles fossem necessários, mas eram leves para uma caminhada pesada.

Cada pedra, que esculpia um formato bruto de diamante dia e mente, traça esse caminho que destoa da falta. Ou da presença? Invenção alienada de quem não tem nada para fazer no mundo, além de brincar de escrever e de lembrar.

Na madrugada de hoje, o chapéu foi levado por uma brisa – igual àquela da montanha da qual falávamos. O forasteiro sem o seu fiel escudeiro, aparador de cada calor, charme necessário para um em cada amor, ficou nu com poeira na memória.

Tamanha peladez que mostrava ao sol todas as artérias que o faziam ser algo chamado amor: esse desconhecido viajante, que caminha de um em um.

Tanta estranheza de sua pequenice perante um caminho tão longo feito e de tão longe a se fazer. Só mesmo com o recém-nascimento para acalantar as noites vindouras de breu, de fel e de véu.



Nenhum comentário:

Postar um comentário