Há muitas eras, sou assim, um espinho fino entre os galhos que acolhem as pétalas. Não, não foi por natureza, foi de safadeza, como diria minha avó. Cresci pouco e mirrado. Tanto é que meus olhos ao invés de esbugalhados ficaram encalhados dentro da órbita sem forças para fazer a rotação sol afora.
Foi assim que, com minhas poucas polegadas, aprendi a lamber a grama seca, em que era jogado. Não lamentava, pois foi de lá, de baixo, que aprendi a olhar pra cima e ver as estrelas que começavam a dançar no salão azul, numa discreta competição para mostrar os trançados dos vestidos.
De longe eu passei a ser crente, tinha fé que ela não existia. Só me apegava a rogar quando ia anoitecendo e o milharal de vovô começa a se mexer e em poucos segundos estava, cada um, dançando sincronizado me atraindo para um mundo que eu ainda não estava pronto. Ah, mas quando o dia amanhecia, eu me vestia de diabinho e ia lá, enquanto os inimigos dormiam, eu empunhava a espada e cortava, mexa a mexa, todas as suas delicadezas. Até hoje não sei se era uma vingança minha ou dele.
E assim nasci um papel amarelado e pálido, sem muitas linhas para escrever. Foi por isso que, hoje, as palavras ainda não gostam de mim. A única forma que restou foi uma delas dizer: "Se nasci papel, quero morrer poesia." Ponto, correu, morreu.
Meu querido amigo que amo tanto, parabens pelo escrito!
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