segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Trezentos e Dois


O caminho pode ser o mesmo de todos os dias, porém nos mesmos passos, há sempre uma nova descoberta. E a conclusão segura é que o caminho é sempre incerto. Sem dúvida, num dia a gente olha um lado, no outro a gente olha para cima e já no outro percebe os próprios passos...

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Nessa mesma rua, de todos os dias nossos de cada horário, num dia deparei-mei com os arbustos que cerram a frente da casa de número trezentos e dois. Uma total incoerência semântica para o lugar fundado na Rua Oitenta e Três.

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Semânticas à parte, passa-se a existir a solidão retumbante nas paredes desgastadas e sólidas. No escuro iminente que transborda o verde intenso das folhas e de alguma outra cor desabrochada por rara flor.

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Solidão da senhora franzina. Parecida com a vida da gente, mesmo que encoberta por duras paredes de cimento, vigas, tijolos ainda há espaço para a doçura das águas das chuvas penetrarem os mínimos vãos e deixarem suas marcas. Marcas estas que, às vezes, são fatais... É, a delicadeza também é mortal!

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Tímida, a casa se esconde sob o trezentos e dois, que por sua vez, recatado, prefere deixar a solidão da velha moradia e da sua própria no pequeno abismo dos galhos intensos, das liminárias antigas e do portão simples, frágil - assim como é a sua dona.

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Quase um silêncio desesperador reina alí. Quando a percebo, reconheço um desejo danado de que o silêncio possa, em algum momento, gritar alto e forte. Mas por sua natureza, prefere continuar ninando o sono das crianças crescidas e que já não moram ali mais. Somente suas memórias continuam.

2 comentários:

  1. belíssimo texto! parabéns por sua escrita!

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    1. Professora, fico feliz, com sorriso maior que a face ao ver suas visitas por aqui. Até, encorajo-me a escrever mais...Obrigado pelo carinho. Admiro-te muito!

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