Quem
é você, que esconde-se sorrateiramente entre as roseiras?
Curioso
vulto, que agacha-se entre os arbustos do quintal.
Quem
é você, que neutraliza com sua única voz outras presenças?
Uma
cadeira de balanço, uma toalha para espantar a solidão.
A
chegada do entardecer e uma vida toda a tecer.
Um
portão vermelho-fosco pintado a pinceladas trêmulas.
A
noite tão inquietante igual sua à única voz a dialogar.
As
lágrimas de uma vida a tremer,
Muitas
tristezas pela janela a se prolongar.
Quem
é você, que fala por si só?
Quem
sou eu, que já sou há muito pó?
Quem
somos nós, acasos de tantos nós?
Um
fio fino de cabelo branco escorrido.
Um
vestido verde-limão meio comprido.
E
aquele tempo passando todos os dias,
Como
as horas de Ave-Marias.
Passos
lentos, ao relento, dados na mesma rua.
Quem
é você, que deixa essa janela tão nua?
Quem
sou eu, que desencaixa a tramela da lua?
Quem
somos nós, que passamos a vida pela rua sem calçada?
O
tempo ungido pelo desamor bandido.
O
sonho há muito tempo perdido.
E
você, que ainda cheira à flor.
E
nós, que ainda temos a poeira,
Para
rimar sem musicar ao sol da comunheira...
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