sábado, 21 de abril de 2012

Trapaças das lembranças I – o enlace de nó




Desde pequeno tive vontade escrever um livro. Definitivamente, não cresci muito nem pra cima, nem para os lados. O livro? As palavras me odeiam. São tão ásperas que lixam minha garganta, iniciando da língua ao coração.

Não! Se eu pudesse escrever lindas palavras seriam sem rimas e nada do coração.
Seriam textos menos cartesianos, pouco convencionais. Uma verdadeira arena para a luta de esgrima. Ah, mas não sei escrever muito para poucos, nem pouco para muitos.

Considero cada palavra, desde que conheci você, um tecido, mal entrelaçado igualmente aquele filme que assistimos no primeiro encontro. Lembra-se?

Ah, tenho outro problema: as minhas palavras são tão egoístas, são tão intimistas, que eu tento falar de mim para mim, mas no fim, elas teimam em dizer somente sobre você. Deve ser um conto moderno travestido de crônica mal pensada com uma poesia pouco desejada e muito menos amada.

Um dia alguém disse-me: “Crie versos, com rimas e coordenados por estrofes”. Atendi ao pedido e fui buscar nas salas de bate-papos todas aquelas inspirações que Camões não teve. Nada demais! Os versos eram comum ao excesso, as rimas eram como crinas cortadas por estarem cheias de carrapatos e as estrofes, mesquinhas igual ao teu coração.

Definitivamente escrever não é para mim. Nem amar. Ser poeta é algo tão venenoso quanto morrer todos os dias e ressuscitar toda noite sendo senhor de uma palavra. Não morro e não sou seu senhor! E amar exige estar vivo a todo momento para não perder o dia da morte.

Lembranças também não são meu forte. Aí estão dois desafios: palavras e lembrar – um enlace complexo, menos que aquela nossa primeira noite de sorrisos, olhares contemplativos e de admiração. Uma prova que a poesia independe da palavra, mas do teu ciclo corporal. 

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