Desde pequeno tive vontade escrever um livro. Definitivamente,
não cresci muito nem pra cima, nem para os lados. O livro? As palavras me
odeiam. São tão ásperas que lixam minha garganta, iniciando da língua ao
coração.
Não! Se eu pudesse escrever lindas palavras seriam
sem rimas e nada do coração.
Seriam textos menos cartesianos, pouco
convencionais. Uma verdadeira arena para a luta de esgrima. Ah, mas não sei
escrever muito para poucos, nem pouco para muitos.
Considero cada palavra, desde que conheci você, um
tecido, mal entrelaçado igualmente aquele filme que assistimos no primeiro
encontro. Lembra-se?
Ah, tenho outro problema: as minhas palavras são tão
egoístas, são tão intimistas, que eu tento falar de mim para mim, mas no fim,
elas teimam em dizer somente sobre você. Deve ser um conto moderno travestido
de crônica mal pensada com uma poesia pouco desejada e muito menos amada.
Um dia alguém disse-me: “Crie versos, com rimas e
coordenados por estrofes”. Atendi ao pedido e fui buscar nas salas de
bate-papos todas aquelas inspirações que Camões não teve. Nada demais! Os
versos eram comum ao excesso, as rimas eram como crinas cortadas por estarem
cheias de carrapatos e as estrofes, mesquinhas igual ao teu coração.
Definitivamente escrever não é para mim. Nem amar.
Ser poeta é algo tão venenoso quanto morrer todos os dias e ressuscitar toda
noite sendo senhor de uma palavra. Não morro e não sou seu senhor! E amar exige
estar vivo a todo momento para não perder o dia da morte.
Lembranças também não são meu forte. Aí estão dois
desafios: palavras e lembrar – um enlace complexo, menos que aquela nossa
primeira noite de sorrisos, olhares contemplativos e de admiração. Uma prova
que a poesia independe da palavra, mas do teu ciclo corporal.
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