Não
quero descrever poemas, nem falar de alegrias. Quero revirar o passado...Para
encontrar o que/ quem? Ninguém!
Sinto
que o tempo pode não ser tão longo quanto desejamos e por isso, nunca sabemos o
momento exato da partida. Se eu soubesse, prepararia um roteiro com o título
“Cerimônia de Encerramento”, para que não houvesse nada em desacordo com minha
vontade, ninguém indesejável na festa. Aliás, ia querer sim aqueles que não
gostaram de mim, só para reafirmar que fui humano demais.
Reviro
o passado para encontrar uma única e exclusiva pessoa: eu... De repente, veio
uma saudade de como fui nascendo e morrendo ao mesmo tempo. E o quanto é
curioso – a gente nasce e já vai morrendo, então não deveria chamar nascimento!
Fotos
antigas, roupas velhas, CD’s, alguns poemas inacabados, pessoas alegres
abraçadas a mim, raríssimos amores (em quantidade e qualidade), amigos que
sumiram com as mortes cotidianas, anotações em cadernos, bilhetinhos para
colegas de escola e faculdade. Quanta raridade!
Aí,
percebi o quanto sou egoísta e fiquei feliz, pois poetas são egoístas e causam
seus males para ter o que chorar sobre uma folha em branco. A solidão e a
saudade também o são.
Quanta
coisa em vão. Quantos sonhos largados no vão. Quantos planos que não passaram
de simples panos, com o acontecer do sol e da chuva ficaram fracos, opacos até
rasgarem-se em um único buraco.
No baú
que reviro agora encontro um pouco de poeira, rosto jovem e encorajado,
trejeitos de pessoa feliz e que quer viver além do que a vida permite. Só
bobagem. Porque na bagagem para a última viagem não se leva muito, talvez não
seja necessário nada. Somente a vida toda que deve passar num instante.
Mas
então não houve amor?! Ah, existiu sim. Já dizem os vividos e outros morridos:
“O que é a vida sem o amor?!”... Algumas cartas fechadas em envelopes,
esperando a coragem postá-las, poeminhas rascunhados com o nome da pessoa,
receita de pratos deliciosos nunca feitos, papel amarelo contendo os amigos,
nome da mãe desconhecida.
Amores...tantos
amores quanto a vida. Talvez nenhum outro amor, antes ou depois. Só um dos
grandes! (...) Numa descoberta que no meio do Eu existem outros que fizeram eu
chegar até aqui, nessa última palavra EU.
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