segunda-feira, 11 de abril de 2011

Páginas de diário



         É tão óbvio sentir-se só. Ainda mais natural é inventar-se escritor para tentar domar os medos, escrever verdades inventadas, sentir paixões iludidas e viver amores descabidos.
A verdade é que gostaria de ser um escritor, de escrever ao menos uma paixão descabida, não! Uma paixão com ternura. E ao contrário do que desejam, um amor ardente, fulgaz, com adjetivos que poderiam ser somente revelados em páginas com orelhas e encardidas daquele diário que guardamos na gaveta mais secreta ou então embaixo do colchão.
O que queremos é sempre dizer algo para alguém. Doce ilusão que criamos ao contar a ele o que sentimos, como estamos no início ou no fim do dia. O desejo profundo mesmo é que o ranger da porta que se abre, desnude nossos dias para o mundo, com a facilidade de um uivo e misterioso como a magia antiga dos feiticeiros.
Então, escrever sobre bobeiras diárias, sobre coisas banais, sem ter mais um repertório adequado de palavras, já é o bastante para quem não tem um diário, nem ao menos nasceu escritor... e mais uma vez arriscamos:
- Querido Diário, nesse momento, eu queria que não só você soubesse disso, mas todo o mundo, em diversos lugares, em diversas línguas. Depois de um final de semana de pequena leitura, vendo seriados iniciar e acabarem e alguns filmes, deu vontade de ser poeta. Mas não sei ser poeta! Você sabe como se faz? Uns dizem que as pessoas nascem assim, outras dizem que há técnica e um tal estilo. Outros afirmam que ser poeta é escrever o que sente. Estranho, porque não sei o que sinto. Nem sei se sinto ou senti.
- Mas voltando ao meu dia, Querido Diário, digo-te que tenho buscado grandes respostas para pequenas perguntas. Tenho tentado me encontrar em alguns lugares aqui em casa. Até agora as tentativas foram em vão, sabe por que? Não sei em que canto enfiei minha casa.
- Nessa jornada por mim mesmo, estive em um casebre de madeira, com paredes pintadas em verde e detalhes das janelas em amarelo, em que adentrei em um quarto pequeno com uma cama pequena e fina, um armário com um espelho na porta e uma mesa de madeira nobre, forjada com as mãos e o formão pelo bisa. Uma gaveta central com uma pedra de ametista, molho de chaves sem utilidades e um caderno de histórias e fantasias de um menino.
- Tremenda confusão, pois poderia passar a vida fugindo e fingindo de estar buscando. Tentando encontrar o quê? Já encontrou! Mas alguns sentimentos são medrosos, são envergonhados, vergonhosos, são frágeis. Ah, Querido Diário, precisamos de doses do desconhecido para conhecer o que vivemos. Precisamos viajar para ter a saudade, provar a nós mesmos que somos menores que a coragem, do tamanho do medo e por fim... a vontade de ser um poeta fingidor, um escritor dissimulado, um amante impecável e um devoto da felicidade. Por hoje é só e não conte a ninguém!


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