quarta-feira, 23 de março de 2011

Notícias de última hora


Caminhava pela rua sem conseguir distinguir o que era realidade ou fantasia. Os pés vestidos por uma névoa de Avalon alcançavam as memórias mais remotas de um passado partilhado com um felino.
Um anjo feminino em sua forma de defesa com asas majestosas e olhos expressivos acompanhava seus passos pelos becos escuros inundados por vultos barulhentos, rabugentos e simpáticos.
Eram velhos conhecidos das beiradas das calçadas mal vestidas que traziam num picuá um passado misterioso de amores ocultos, flagelados, concretizados, quase possíveis. E em meio a tanto alvoroço de umas sementes de medo e outras de curiosidade, com um punhado de saudade, que estava ele: sentado no minúsculo quintal de paredes amarelas e cimento encardido.
O ancião apoiado em seu instrumento necessário para os passos enxergava com os ouvidos o que a velha caixa anunciava. Como um feiticeiro, previa as próximas e as anteriores palavras encaixadas em meio ao zumbido daquele que era uma relíquia.
Apoiado ao pé da orelha vivida e sofrida saboreava as notícias noticiadas acontecidas.
Com algumas redundâncias de quem já viveu um coração de pleonasmos, o velho entristecia-se por aquilo que deixara de ser e por aquilo que fora. Eram as notícias de última hora da derradeira vida. Miserável vida gritada com os barulhos de todos os lados, de todos os microfones, com alguns bilhetes desenhados com nuvens e flores... e uma assinatura desconhecida... Como se o papel e os sentimentos também fossem visíveis aos ouvidos.





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