- “Óia o cheru verde. Cebolinha e alface. Óia o chero verde...” – Assim seguem todas as manhãs em um lugarejo distante, muito distante. Iguais aqueles dos contos de fadas, em que os seres de rosto forte, de busto abusivo e de mãos robustas seguram as grandes bacias amaçadas de alumínio cor de noite. Elas seguem encantadoras em meio à garoa, que insiste em brigar com o calor matinal, em busca dos habitantes.
Mais adiante, em passos passados do dia ido: - Ei cachorro?! Cadê o cachorro?! E as mãos entrelaçadas pelos dedos escuros levados ao orifício sonoro, disparam pela rua os gracejos de um animal de estimação. Aqui, o homem é quase um animal. Ou é? Tenho dúvidas, quando passo pela calçada que abriga na esquina uma pequena barraca de baião de dois.
Ah, sim ia esquecendo-me, o baião nesse lugar é de todos, é com queijo, com folha de louro, é nobre e é popular. É vendido a ouro, é vendido nas esquinas. É consumido no trilho do trem, que somente às vezes, passa acordando os desanimados, os desavisados, os destemidos vizinhos de seu lugar.
É assim que vão se criando os tecidos de uma cidade viva. Com vida entre as grades das varandinhas acompanhadas pelos olhares tristonhos dos velhinhos que muito entregaram por querer e sem querer. É assim, que vai sendo descoberto o traçado invisível de uma linha tênue que desgruda as margens.
Aqui não há margens, não há local certo, não há condição adequada. Há mitos, mitologias e personagens. Todos, todas! Personagens personificadas vivendo encantadas em seus pequenos espaços sem calçada, com a porta desembocada para a rua. Uma rua que é dos meninos arteiros, das comadres faladeiras, das doceiras, das senhoras tristonhas, dos marujos que carregam nas costas mulheres desbotadas nuas abraçando eternamente as crinas de um alazão.
Texto perfeito para o relato de nossa história, parte de nossas vidas que engrandecem o ser... Momentos que jamais será esquecidos e lembranças que sempre teremos vivas em nossos pensamentos....
ResponderExcluirEdu...