sábado, 12 de março de 2011

Cacimba



Prólogo
Primeiramente, um esclarecimento: esse texto não deveria ser um. Deveria ser dito! Não deveria parecer um poema, nem deverá haver poesia. Mas, como todos os espaços enlouqueceram e minhas razões não conseguem desvendar o real do imaginário, será falado em ousadia, em nudez, em desejos por meio de uma linguagem chula e sem nexos!

Há ato, de fato é que, hoje pela manhã. Observação: que o hoje seja o seu e que a manhã seja qualquer uma! Falei em amores impossíveis, em sonhos desejáveis, em pessoas intocáveis, em sentimentos transcendentes...

Ao ato: conjuguei tantas vezes verbos no passado impossível e no futuro remoto, que acabei não amando, acabei deixando de sonhar, esqueci a loucura que existia em mim. Atos insanos, insensatos, palavras que se calaram e emoções abortadas antes de serem geradas.

Ao fato: não amei, não sonhei, não conquistei, não vivi! Passados impossíveis, que se afundaram em água de gosto forte. Igual à chuva. De fato, a chuva faz parte de mim. Sempre a contemplei, tentei entender seu cheiro, escutar seu gosto, pegar seu mistério... anos mais tarde compreendi: era o próprio mistério personificado que chegaria. Claro, junto com a chuva!

Desato: entendi - ontem, não, não, hoje de manhã - que a chuva sempre volta, acompanha-me. Agora, mais intensa, mais firme, mais futuro incerto. Desatei os nós dos verbos impossíveis e passei a querer os trabalhos de Hércules, as poesias não escritas, os verbos não vividos, nem sentidos. Desatei em uma loucura de fios negros pintados com aquarela.

Finalmente: não entenda o que é, nem para quem seja. É somente uma cacimba que jorra para cima, o que o eu lírico chama de sentimento transcendente.
Não julgues conhecer. Não procures o perdido. Não conjugue o talvez. Não é verbo, nem ação é descoragem.

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