segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A porta que eu era, a era

Quando eu era pequeno, eu queria ter uma porta. Uma porta grande, grandíssima! Que precisasse de muita força para abrir.
Eu queria uma porta que fosse forte
Que se abrisse em suntuosas duas partes
E que cada uma das partes levasse aos lugares mais longes
Aos sonhos mais sonhados, mais esculpidos.



Quando eu fui crescendo, aos poucos a porta ia mudando.
Houve épocas que ela era quase uma porta de armário: bem pequenina.
Em outros tempos, eras difíceis, a porta se encorajava e vestia-se de ferro
Perfurava as sombras e os sombrios.



O dia amanhecia primavera, e a porta se enchia
Cada parte se abria
Enfeitava-se de colorido e o caminho era um grande manto de flores.
Com peixes voadores sobre os rios.



Em tempos frios a porta tornou-se um portão.
De madeira, desgastado pela umidade
A porta foi se desencantando com desumanidade.
Mas uma das partes, o lado de dentro não.



Veio o ladrão
Como um manso cão
Tirou o frio, quebrou o rio e desmantelou o vão
Do portão.
E a porta era, era a porta, a porta da era as eras

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