terça-feira, 13 de julho de 2010

O sapo que lãzeava

Sei que é comum um sapo falar da lagoa enluarada.
Sei que é comum um sapo ser príncipe.
Mais comum ainda é um sapo ser nojento.
Mas é incomum um sapo ser sapo.
É estranho falar de mim sem ter água na lagoa
Sem ter a princesa na torre
Sem ter a noite enluarada...
É triste, mas é isso!
Sou um sapo que não gosta de prosa. Nem de princesa.
Ando muito ocupado, muito atarefado e... muito apaixonado.
Há muitos e muitos tempos, descobri que minha condição de sapo encantado era mais uma desculpa de uma bruxa que não embruxava nada nem ninguém.
Chegou um dia que dei um basta. Desencantei por conta própria!
Deixei de lado a ideia de ser sapo-princípe para ser um sapo-sapo.
Eu não queria mais ficar esperando uma princesa mimada, que não sabe fazer nada, nem mesmo tecer, desenhar e colorir.
Pensei em ser um sapo diferente e procurar outras lagoas. Ao menos, uma lagoa que tivesse uma lua para eu mergulhar todas as noites.
E durante o dia tecer embaixo da sombra do tabual.
Encantado mesmo seria para a vida entrelaçada pelos fios invisíveis
Linhas coloridas embaralhadas num carretel de encantamento
Barbantes insinuantes costurando formas disformes de um príncipe que jamais seria sapo.
Porque os sapos são limpinhos, são definitivamente mais encantadores e encantados.
Sei que é incomum um sapo falar da sua vida de sapo
Porque os sapos não falam, mas os príncipes não existem...
Minha lã sim, minhas linhas sim e minha lagoa... essa é outra história de sapo.

Um comentário:

  1. É comovente tudo o que tu escreves... Adoro ler seus textos. Continue escrevendo, porque você cativa a todos com suas palavras.

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