sexta-feira, 9 de julho de 2010

Doutor, olhe a língua!

Há algum tempo deparei-me com algumas inusitadas expressões que, pra ser ameno, causam dores agudas aos ouvidos de quem estuda a língua portuguesa. Ao ingressar em uma pequena jornada no meio empresarial fui constatando que nesse ambiente as normas gerais da gramática não têm vez e a voz... sai cada coisa!


Figura: Mário de Andrade, caricatura de Baptistão
Fui obrigado, inúmeras vezes, a “sair pra fora”, “entrar pra dentro da sala”, “descer lá embaixo” e “subir lá em cima”. Que cansativo! (...) Eu fico tão estupefato, no início da noite, ao exercitar tanto e de maneiras estranhas a língua e o corpo.
E a escrita? Ah esta não está no gibi... Precisei aumoçar! Isso mesmo almoço com “u”. O cardápio estava bom, mas quando meu estômago lembra ainda tenho enjôos.
O mais importante: descobri que no mundo empresarial precisa-se de profissionais que auxiliem a empresa na escrita e que é necessário ter empresários capazes de entender seus erros e se perdoarem por cometê-los, pois o papel aceita tudo, os ouvidos nem tanto e a senhora reputação lê a fala, a escrita e julga cirurgicamente.
É compreensível, não aceitável – que a maioria se comporte como gênios absolutos da língua, pois até nosso presidente – autoridade maior de um povo democrático – recentemente, no lançamento do Emblema da Copa de 2014 (Vamos lá Brasil!), deslizou garganta abaixo plurais inexistentes e existentes (coitadinhas das pregas vocais).
E quando falamos de doutores? Ah, esses então corremos o risco de ser castigados... Não se pode comparar humanos a deuses. A titulação dos humanos somente é concedida após realizar os 12 trabalhos. E para os deuses? Esses já nascem assim...
Ceifa-se a gramática, a linguística! “Decretamos o fim das normas semânticas. Abaixo a ditadura da Análise do Discurso. Acabou-se a coesão”.
Instaura-se uma guerra contra os sinônimos, os pontos se perdem em meio à confusão e a acentuação fica instantaneamente caduca (ou lembra demais ou menos)... Ai é o fim da coerência.

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