quinta-feira, 3 de abril de 2014

A solidão


Não era fria, nem monótona. Abraçava-me com uma fervura tamanha, de arrepiar qualquer outra presença. Um encontro possessivo e ciumento e, aos poucos, quando percebeu, já havia espaço para os poros.
Tudo estava inundado de um calor gélido e ultrajante.
Florescia ao entardecer, adentrando, amorosamente, as entranhas mais íntimas e profundas e...
amavam-se! Amantes conjugados em primeira pessoa.
No singular.
Preparava os rituais diários para a reza cotidiana.
Jamais esquecera, em toda sua vida,
de desejar-lhe bom dia ou boa noite.
Frequentava os mesmos espaços de si que o outro,
mantendo a quentura de uma não-presença
suficientemente forte
para evaporar o sol.
Era feito pimenta no olho: ardia como fogo.
Era feito pimenta no prato: realçava o sabor.

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