sábado, 23 de junho de 2012

Lições de Motim: da solidão, do cárcere e dos des/afetos




Longe de querer dar definições, mas próximo às sensações e experimentações de uma personagem – Dona Cotinha – vomito paladares sentidos com o texto denso e coeso da peça “Lições de Motim”, de Hugo Zorzetti.

Às vezes, pensamos e acreditamos na solidão como um incômodo. Mas não! Pode ser a presença que nos provoca a ir deixando, aos poucos, as pessoas.  Dona Cotinha, mesma diz: “Tem gente que não gosta de solidão. É claro! Só gosta de solidão quem nasceu para ser solitário.”

Cheirar toda essa renúncia que as palavras de uma velha aposentada e com “seu ladrão” de dez anos preso em sua janela, faz-nos refletir nas marcas que a vida vai deixando em nossas paredes.

Degustar do desfazer das mãos que nos torturam, por bem ou por mal, é um exercício paciente, engraçado, solitário e doloroso... É assim, que se desenrola uma trama que prova a nossa necessidade de aprender a nos ver como solitários, mas que essa solidão só é construída a partir das marcas de Cuecas (o ladrão) e Cuecas que entram em nossa residência para "roubar" o que temos de mais simples, porém de mais caro e raro.

No fim, a presença e a solidão nos causa os mesmos efeitos e aí “fiquei órfã do medo”, “eu fiquei órfã da piedade”, “desapropriada do choro” e “órfã de minha vergonha”.

Então, se “viver só vicia” também é preciso que sejamos preenchidos com as sombras...Num jogo complexo, com um diálogo intenso de nossos medos, de nossos acontecimentos, que provocamos e que nos provocam.

Lições de Motim é mais que um diálogo entre uma velha, aparentemente desprovida do desejo da presença e seu ladrão, de anos. Mas é o desejo de um “ladrãozinho qualquer” que insiste em dá significado à solidão pedagógica, num desfecho com uma boa conversa psicanalítica e um desejo de aprofundar mais e vê-lo outras vezes... Na ausência construída e na pertença invadida. 

Reflexões sobre a peça "Lições de Motim", de Hugo Zorzetti, com elenco: Liomar Veloso e Renata Caetano, direção de Constantino Isidoro e realização da Anthropos Cia de Arte.

3 comentários:

  1. Olá Jossier
    Que bacana podermos entrar em contato com as sensações do espectador
    Fico feliz e honrada com suas palavras, reflexões e sensações
    Obrigado!!
    Renata Caetano

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  2. Vc permite divulgar suas impressões?
    Renata Caetano

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  3. Lógico que permito. E Quero agradecer pela oportunidade de prestigiar, pois é sempre necessário o contato com a arte, ainda mais quando ela nos provoca profundamente em cada fala e gesto nos tirando da zona de conforto. Novamente, parabéns!

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