Longe
de querer dar definições, mas próximo às sensações e experimentações de uma
personagem – Dona Cotinha – vomito paladares sentidos com o texto denso e coeso
da peça “Lições de Motim”, de Hugo Zorzetti.
Às
vezes, pensamos e acreditamos na solidão como um incômodo. Mas não! Pode ser a
presença que nos provoca a ir deixando, aos poucos, as pessoas. Dona Cotinha, mesma diz: “Tem gente que não
gosta de solidão. É claro! Só gosta de solidão quem nasceu para ser solitário.”
Cheirar
toda essa renúncia que as palavras de uma velha aposentada e com “seu ladrão”
de dez anos preso em sua janela, faz-nos refletir nas marcas que a vida vai
deixando em nossas paredes.
Degustar
do desfazer das mãos que nos torturam, por bem ou por mal, é um exercício paciente, engraçado,
solitário e doloroso... É assim, que se desenrola uma trama que prova a nossa
necessidade de aprender a nos ver como solitários, mas que essa solidão só é
construída a partir das marcas de Cuecas (o ladrão) e Cuecas que entram em nossa
residência para "roubar" o que temos de mais simples, porém de mais caro e raro.
No
fim, a presença e a solidão nos causa os mesmos efeitos e aí “fiquei órfã do
medo”, “eu fiquei órfã da piedade”, “desapropriada do choro” e “órfã de minha
vergonha”.
Então,
se “viver só vicia” também é preciso que sejamos preenchidos com as
sombras...Num jogo complexo, com um diálogo intenso de nossos medos, de nossos
acontecimentos, que provocamos e que nos provocam.
Lições
de Motim é mais que um diálogo entre uma velha, aparentemente desprovida do
desejo da presença e seu ladrão, de anos. Mas é o desejo de um “ladrãozinho
qualquer” que insiste em dá significado à solidão pedagógica, num desfecho com
uma boa conversa psicanalítica e um desejo de aprofundar mais e vê-lo outras
vezes... Na ausência construída e na pertença invadida.
Reflexões sobre a peça "Lições de Motim", de Hugo Zorzetti, com elenco: Liomar Veloso e Renata Caetano, direção de Constantino Isidoro e realização da Anthropos Cia de Arte.
Olá Jossier
ResponderExcluirQue bacana podermos entrar em contato com as sensações do espectador
Fico feliz e honrada com suas palavras, reflexões e sensações
Obrigado!!
Renata Caetano
Vc permite divulgar suas impressões?
ResponderExcluirRenata Caetano
Lógico que permito. E Quero agradecer pela oportunidade de prestigiar, pois é sempre necessário o contato com a arte, ainda mais quando ela nos provoca profundamente em cada fala e gesto nos tirando da zona de conforto. Novamente, parabéns!
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