domingo, 27 de maio de 2012

Balada do bailarino – a verdade em sinopse




É um resumo redundante e curto, que se faz tecer nos olhares secos que escorrem entre os jogos de luzes da noite.

Ao aventurar-me nessa noite - que de criança não tem nada - sempre acho curioso demais as “subcategorias” e até dá vontade rezar mil Ave-Marias. Sinto-me tão perdido com as personagens encarnadas, com as danças desencarnadas, com os corpos tão perfeitos espremidos em sorrisos congelados.

Tudo não passa de uma balada, em que o bailarino por  si só de definição contorce-se sobre o eixo do outro na intenção de irradiar ao máximo possível seu cheiro de desejo/desejar/desejado. Igual à comanda de papel que se aquece no bolso da gente pedindo pra ser preenchida.

Tudo é uma mera sinopse. A noite do bailarino é o espetáculo perfeito para sua coreografia exata. Todos, nessa balada, são artistas e expectadores com tantos números e grandes expectativas numa selva que acaba se tornando tão turva de não enxergar ninguém.

A verdade é tão resumida, aliás, tão desnecessária. Pois perde espaço para cabelos que chacoalham ao som da música que diz tudo de um nada. Os pés que plantam de verdade o corpo são meros pregos enferrujados que tampam uma couraça inventada. Os olhares são afoitos, aflitos, desesperados para ver o máximo do que, na verdade, é mínimo.

O coração deixa de existir, de dizer algo, de se manifestar – não sei se por medo ou por vergonha de ver todo o movimento contrário a si – e dá lugar ao corpo elétrico que gira em todos os dos outros, na tentativa de ser grande, de ser galante e de ser mesquinho demais para ser belo.

A balada do bailarino não tem espaço para o pouco, mas tem espaço para o oco, para o fosco vestido num figurino brilhante, reluzente de sensualidade banal-fatal e no fim do espetáculo, o que vale é a interação com o maior número de espectadores e ainda tem espaço para o bingo final... que  afinal, qualquer um pode terminar a noite falando pétalas e distribuindo íntimo amor-banal.  

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